Trabalhadores e pioneiros
Nordestinos e nortistas em sua
maioria vinham atraídos pela chance de um novo começo
Em 1957 chegaram ao local da futura capital os primeiros
trabalhadores: uma massa humana de diferentes origens e características sociais
que, mesmo sem garantia de conforto ou de bem-estar, dispunha-se a trabalhar
para a Companhia Urbanizadora da Nova Capital (Novacap).
De acordo com o censo daquele ano, esses 256 primeiros
migrantes procediam, na maioria, do Norte e do Nordeste do país. Eram os
primeiros “candangos”, como ficaram
conhecidos aqueles trabalhadores pioneiros, que vinham atraídos pela
possibilidade de um novo começo e novas oportunidades. Saíam da terra natal com
uma mala e pouquíssimo dinheiro — às vezes nem isso, só com a roupa do corpo —
e lotavam a carroceria dos caminhões para viajar 45 dias em estradas precárias,
de terra batida, até o local demarcado para a construção de Brasília, onde só
havia mato e poeira.
Caminhão de operários passa próximo
ao futuro prédio do Congresso Nacional, em 1959. (Foto: Mário
Fontenelle/Arquivo Público do DF)
Ao chegar ao Planalto Central, o candango era encaminhado ao
Instituto de Imigração e Colonização (Inic), órgão da Novacap responsável pela
triagem dos operários. Lá, ele obtinha seu cartão de identificação (necessário
para circular nos acampamentos) e era designado para trabalhar numa das
construtoras ou na própria Novacap, onde sua carteira de trabalho era assinada
— geralmente, pela primeira vez. Após o fichamento, o migrante era conduzido ao
almoxarifado, onde recebia colchão, cobertor e travesseiro. Em seguida, podia
fazer uma refeição na cantina do acampamento da construtora contratante ou num
dos restaurantes administrados pela Nocavap.
Os serventes eram alojados em grandes galpões. Já os mestres
de obra dormiam em pequenos quartos de madeira.
O cotidiano dos trabalhadores de Brasília era duro. Os
operários trabalhavam das 6 horas da manhã até o meio-dia, faziam um intervalo
de uma hora e depois encaravam novo turno até as 18 horas. Em alguns casos,
trabalhavam 14, 15, 16 horas por dia. O salário era pago por horas
trabalhadas, e, para aumentar seus rendimentos, muitos faziam serão. Como
testemunhou um candango:
“Eu pegava empreitada de 200 horas e com dois dias eu
dava ela pronta, dois dias e duas noites. Trabalhava dois dias e duas noites
direto assim. Parava, só parava pra almoçar, e à meia-noite tomar o café, o
lanche. Aí baixava eu, minha pá e minha picareta e não queria saber”.
Outro candango recorda:
“Nosso lazer era esse: contar história do passado, das
pessoas que a gente tinha deixado na terra da gente. Cada um contava a sua
história”. O lazer? Quase ninguém nessa época tinha lazer. Aqui não tinha
lazer. Aqui tinha que ser igual porco: comer, trabalhar e dormir. […]
o ânimo era o melhor possível, o pessoal animado, todo mundo atrás do seu
eldorado, não é? Foi muito bom, foi uma época assim, que as amizades da época,
era uma amizade, a gente via que tinha, mais sincera, não é?... Eu achei muito
bom, isso de ter vindo para Brasília. Talvez se tivesse que começar tudo de
novo eu repetiria isso. Mesmo já sabendo de todo o sofrimento que passei.”
Os acidentes de trabalho ocorriam com frequência, e os
operários eram atendidos no hospital geral, construído perto da Cidade Livre e
chefiado pelo primeiro médico da cidade, Édson Porto, que viera de
Goiânia. Mais tarde foi construído o Hospital Distrital, hoje HDB, e para lá
iam os candangos acidentados. O serviço de ortopedia, chefiado pelo médico
Campos da Paz, deu origem à futura Rede Sarah.
Muitos trabalhadores morreram, entre eles dois operários
soterrados durante a construção da Universidade de Brasília. No local do
acidente foi construído o auditório que hoje se chama “Dois Candangos”.
APRENDA MAIS:
Migração: Movimentação de entrada (imigração) ou saída
(emigração) de indivíduo ou grupo de indivíduos, em busca de melhores
condições de vida Essa movimentação pode ser entre países diferentes ou dentro
de um mesmo país.
Migrante: pessoa que migra, que muda de uma região ou de um país para outro, para aí se estabelecer, geralmente por motivos económicos ou sociais.
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